segunda-feira, 20 de abril de 2015

domingo, 19 de abril de 2015

Cientistas revelam o que acontece ao estalar os dedos

Ao descobrir o que provoca o som das juntas estalando, pesquisadores canadenses sugerem que, provavelmente, o ato não causa nenhum mal às articulações

 - Atualizado em 
Estalar de dedos
Estudo revela que estalar os dedos pode indicar a saúde das articulações(iStockphoto/Getty Images)
Pode estalar os dedos sossegado. Provavelmente nenhum dano será feito às articulações e o som pode até indicar a saúde das juntas. A descoberta é de uma equipe de pesquisadores da Universidade de Alberta, no Canadá, que revelou pela primeira vez com método científico o que acontece quando estalamos as juntas. Passando os dedos de um participante do estudo por uma máquina de resssonância magnética, o grupo descobriu que é a criação de uma "bolha" na substância que lubrifica as articulações que causa o barulho - e não o atrito entre os ossos. O estudo foi publicado nesta quarta-feira na revistaPlos One.
"É como a criação de um vácuo", explica Greg Kawchuk, professor do departamento de fisioterapia da Universidade e líder do estudo. "Uma vez que as superfícies das articulações se separam rapidamente, não há mais fluido disponível para preencher o volume crescente do conjunto, uma cavidade é criada, e esse evento é o que está associado ao som."
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Vácuo - Para saber como as juntas estalam, os cientistas inseriram os dedos - um de cada vez - em um tubo conectado a um cabo e o puxaram devagar até a junta estalar. Foram feitas imagens de todas as etapas e de todos os dedos. "Ao fazer isso, foi possível ver claramente o que realmente acontece dentro das juntas" explica Kawchuk.
As ressonâncias mostraram que a separação das articulações causou a rápida criação de uma cavidade de gás dentro do fluido sinovial - uma substancia que lubrifica as juntas. É a criação desse espaço vazio que provoca o barulho.
Não faz mal - "As pessoas não gostam do barulho do dedo sendo estalado porque acham que há algum dano sendo feito" comenta Richard Thompson, outro cientista envolvido no estudo. No entanto, de acordo com os pesquisadores, não há evidências de que o barulho signifique que algum mal está sendo feito ao corpo.
Essa pesquisa dá suporte científico a uma teoria dos anos 1940 que usou radiografias para afirmar que era a criação de uma "bolha" que fazia as juntas estalar. No entanto, um estudo dos anos 1970, também com raios X, questionou o achado, propondo que era o estouro da bolha na articulação que criava o barulho.
"Por que podemos estalar algumas articulações e outras não? Ainda está em aberto a questão se a habilidade de estalar os dedos pode estar relacionada à saúde das juntas e a incapacidade de fazer isso pode ser um sinal de problemas", comenta Kawchuck.
Os autores acreditam também que o experimento pode ajudar a descobrir problemas nas juntas antes de os sintomas aparecerem. Além disso, pode ajudar a revelar por que as articulações desenvolvem a artrite ou se machucam.
(Da redação)

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Caipira conserva formas antigas da Língua Portuguesa, afirma pesquisadora1

  • Arquivo Pessoal
    Soraia Reolon Pereira é pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa
    Soraia Reolon Pereira é pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa
Palavras como "fruita" e "pranta" já fizeram parte da norma culta da Língua Portuguesa, você sabia? "Essas formas eram usadas no português medieval, mas ao longo do tempo sofreram modificações fonéticas e hoje estão fora do uso padrão, por isso são vistas como formas desprestigiadas, até 'erradas'", explica a professora Soraia Reolon Pereira, uma das pesquisadoras da Fundação Casa de Rui Barbosa. "Convém ressaltar que não é um "erro" do caipira, é uma conservação de formas antigas por questões históricas", diz.
Uma pesquisa sobre essas palavras que caíram em desuso, mas que foram preservadas na linguagem caipira se transformou no "Vocabulário do Português Medieval", lançado no ano passado pela Fundação, que reúne 170 mil palavras.
"O Vocabulário faz um levantamento do vocabulário medieval conhecido por nós através dos textos que foram preservados daquela época. E lá existe o registro de palavras que foram preservadas no dialeto caipira e outras que não foram e o registro de variantes que hoje são as formas que ficaram na língua padrão", explica Soraia.
Na entrevista a seguir, Soraia Reolon Pereira comenta algumas curiosidades da Língua Portuguesa. Confira:
UOL Educação - Existe falar errado na Língua Portuguesa?
Soraia Reolon Pereira - Os conceitos de "certo" e "errado" na Língua Portuguesa estão associados à tradição gramatical, mais especificamente à gramática dita normativa ou prescritiva, que enumera os usos histórica e socialmente consagrados e adotados como um padrão. O uso dessa gramática nas escolas tem a finalidade pedagógica de capacitar os alunos para participarem de situações sociocomunicativas em que seja necessário o domínio da língua padrão. 
Já a gramática descritiva apresenta o sistema linguístico – as unidades da língua e as combinações dessas unidades, para formar palavras e frases – não se restringindo à variedade padrão da língua, nem emitindo um juízo de valor sobre o prestígio social de qualquer das variedades da língua. Assim, o conceito de "certo" e "errado" se relativiza, e passa-se a pensar em "adequado" e "inadequado".
Na modalidade falada em situações informais, os linguistas afirmam que o mais importante é se comunicar, se fazer entender, e, assim, muitos usos coloquiais são adequados. Porém, na fala, em situações formais, como na produção de um discurso, já é adequado o uso da norma padrão.
UOL - Qual é a origem histórica da fala caipira? Por que palavras do português arcaico foram mantidas pelo linguajar caipira?
Soraia - Amadeu Amaral, em 1920, publica O dialeto caipira, importante estudo sobre o léxico caipira e os aspectos fonéticos, morfológicos e sintáticos. O falante desse dialeto era o caipira, indivíduo que habitava o interior do Estado de São Paulo e que vivia da agricultura, com modos de produção baseados na economia familiar e no auxílio de vizinhos, formando bairros rurais, relativamente fechados. Amadeu ressalta que o vocabulário caipira foi formado por: elementos oriundos do português usado pelo primitivo colonizador, muitos dos quais se arcaizaram na língua culta; termos provenientes das línguas indígenas; vocábulos importados de outras línguas por via indireta, como do castelhano; e vocábulos formados no próprio seio do dialeto.
Isto tem uma razão histórica: os bandeirantes a partir do século 16 no Brasil colonial realizaram um movimento de entrada pelos interiores em busca de riquezas e vão expandindo os limites territoriais em direção ao Centro-Oeste. Nas bandeiras vão portugueses falando o português medieval, índios, negros e alguns estrangeiros. O afastamento do litoral e das novidades (inclusive linguísticas) da metrópole, a dificuldade de comunicação, as distâncias e a vida rural favoreceram a criação do dialeto caipira e a conservação de formas do português medieval.
UOL - O que é arcaismo?
Soraia - Arcaísmo é palavra, expressão, construção sintática ou acepção que deixou de ser usada na norma atual de uma língua. Assim, formas como "fruita", "escuitá", "pranta" não pertencem à norma padrão dos dias atuais. São consideradas arcaísmos fonéticos. Estas formas eram usadas no português medieval, mas ao longo do tempo sofreram modificações fonéticas e hoje estão fora do uso padrão. Hoje, o padrão é "fruta", "escutar" e "planta". Por isso são vistas como formas desprestigiadas, até "erradas".  Convém ressaltar que não é um "erro" do caipira, é uma conservação de formas antigas por questões históricas.
UOL - Como foi o processo de pesquisa do Vocabulário do Português Medieval? Qual a importância dele para a nossa língua?
Soraia - O livro Vocabulário histórico-cronológico do português medieval é um dos produtos de uma longa pesquisa realizada na Fundação Casa de Rui Barbosa. Trata-se do primeiro levantamento exaustivo do léxico da língua portuguesa nos séculos 13, 14 e 15. Apresenta cerca de 170.000 verbetes do português medieval e os relaciona com 15.229 palavras correspondentes no português atual.  A conclusão do projeto significa um importante passo para a lexicografia de língua portuguesa.