terça-feira, 31 de maio de 2011

Beltrame: governador é meu parceiro. E os outros secretários?

Pedro do Coutto

Na entrevista quer as repórteres Elenilce Botari e Liane Gonçalves fizeram com José Beltrame, manchete principal de O Globo, edição de domingo, o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, com total razão, afirmou que o êxito permanente das UPPs depende de investimentos sociais maciços nas áreas faveladas que se transformaram, ao longo do tempo, em redutos do tráfico e da violência que alarma a população. A violência diminuiu, de acordo com os dados que forneceu. Mas os problemas locais que a alimentam permanecem. E vão continuar enquanto os esforços do governo não convergirem para enfrentar as raízes do conflito. Está certo neste ponto também. E coloca questão essencial: a força policial não pode resolver todas as coisas.

Beltrame deixou claro a O Globo que não está plenamente satisfeito com o apoio que recebe para realizar seu trabalho. Tanto assim, afirmou que o governador Sergio Cabral é seu parceiro: “Peço, reclamo, o governador liga para as pessoas. Porém os pedidos e reclamações não surtem o efeito desejado”. Sem dúvida. Caso contrário, o secretário de Segurança não teria feito a exceção. Deu a entender nitidamente que o chefe do executivo empenha-se, mas tal empenho não encontra o esperado eco. Uma pena, digo eu.
“Sair – declarou – seria uma coisa egoísta. Não vou jogar a toalha. Brigo muito e isso me desgasta”. José Beltrame, que atua com autonomia, revelou tacitamente encontrar-se magoado com a falta de apoio efetivo à política que colocou em prática, a qual não termina na fronteira de repressão. Ao contrário. Tem como objetivo ultrapassar esse limite e ingressar no plano construtivo, a partir do repressivo. Correta a opinião novamente. A prevenção é algo essencial. Acontece o delito. A repressão o sucede. E portanto não impede seu reflexo nas pessoas e na sociedade.

Ao responder a uma pergunta das repórteres, Beltrame mandou um recado direto do Secretário de Fazenda, Renato Vilela. Em forma de indagação. Por que o estado não destina incentivos a empresas que investissem maciçamente nas comunidades? Ficamos nós esperando a explicação ou de Sergio Cabral ou de Renato Vilela. As estatísticas liberadas por Beltrame são incisivas. Ele assumiu o cargo em 2007. Em 2006, houve 6,3 mil homicídios no estado. Praticamente 19 por dia. Em 2010, caíram para 4,7 mil. Uma redução de 50%, sem levar em conta que o crime recuou enquanto o número de habitantes cresceu pelo menos 5%. Os furtos de veículos desceram de 21,6 mil para 18,7 mil. Os roubos (à base de violência armada) declinaram de 34,9 mil para 20 mil no ano passado. Mesmo assim o perigo mantém-se alto. Se somarmos os furtos aos roubos vamos chegar a um total de 38,7 mil casos em 2010. Este montante equivale a mais de 100 por dia. Ninguém portanto está seguro na direção de seu automóvel. E o roubo a residências?

José Mariano Beltrame destacou como um dos pontos básicos de sua atuação o combate à prática da desonestidade da qual nasce e se renova a corrupção. Não é tarefa fácil. O universo da corrupção é muito grande. O trafico de entorpecentes criou um câmbio interno dos piores. Pois o ladrão que rouba algo no valor de mil reais, acha que vai entregar o produto a um receptador e multiplicar o pagamento por 10 adquirindo e revendendo cocaína. Uma ilusão, certamente. Mas também uma proposta de sedução que o criminoso faz a si mesmo.

Enfim, como todos sabemos, o problema conjunto é extremamente complexo. E a política social de governo a que se referiu é indispensável. Como indispensável também é a ação que se espera do governador Sérgio Cabral depois de uma entrevista tão clara e tão oportuna.

Alemanha desiste da energia nuclear. Enquanto isso, aqui no Brasil, o ministro Lobão confirma a construção de novas centrais.

Carlos Newton

Uma das notícias mais importantes dos últimos tempos. A Alemanha tornou-se a primeira grande potência industrial a renunciar à energia nuclear, e os últimos reatores do país serão desativados até 2022. Quatorze dos 17 reatores alemães não estarão mais em serviço no fim de 2021, e os três últimos – os mais novos – serão utilizados até 2022 no mais tardar, segundo o ministro do Meio Ambiente, Norbert Rottgen, após sete horas de negociações com a chanceler Angela Merkel.

A pá de cal no programa nuclear alemã, lógico, foi a recente catástrofe da central nuclear japonesa de Fukushima. E o mais impressionante da decisão é o fato de o governo alemão sequer ter definido como substituir as fontes nucleares, responsáveis hoje pela geração de 22% da energia elétrica consumida no país.

Como a Alemanha não dispõe de significativo potencial hidrelétrico a ser explorado e as tecnologias atuais de energia eólica e solar ainda são insuficientes para gerar a gigantesca quantidade de energia necessária, o país certamente terá de instalar novas termoelétricas, que ainda são altamente poluidoras. Uma das alternativas devem ser as usinas a gás, porque poluem menos do que as movidas a carvão ou óleo combustível

Após a catástrofe da central nuclear de Fukushima, os sete reatores alemães mais antigos já haviam sido desconectados da rede de produção de energia elétrica, à espera de uma auditoria solicitada em março pela chanceler Angela Merkel E não serão mais reativados, assim como uma outra central, mais moderna, mas que vem registrando frequentes problemas.

O governo formalizará a decisão em 6 de junho. “Nosso sistema de energia deve e pode ser fundamentalmente modificado”, afirmou Angela Merkel, cujo governo terá agora que enfrentar o poderoso lobby nuclear alemão, que não hesita em mencionar o fantasma de apagões no país, especialmente no inverno.

Os verdes, que viram sua popularidade disparar após o acidente de Fukushima, insistem na necessidade de recorrer às energias renováveis mais limpas, ao invés das centrais de carvão. “Não se trata apenas de saber como sairemos da energia nuclear, mas também a que velocidade, e com que ambição ingressaremos nas energias renováveis”, destacou Claudia Roth, uma das lideranças dos verdes.

Ao decretar o fim da era nuclear civil em 2022, Merkel retoma uma das promessas mais importantes do início de seu segundo mandato, que foi também uma das principais bandeiras de sua campanha para as eleições legislativas de 2009.

Mas no fim de 2010, a chanceler alemã voltou atrás e conseguiu aprovar uma prorrogação de 12 anos em média para a duração legal da exploração dos reatores do país, contra a opinião pública do país, o que provocou uma explosão do sentimento antinuclear na Alemanha.

Com a decisão do fim do ano passado, Merkel provocou um aumento dos sentimentos antinucleares na Alemanha, que se traduziram em grandes manifestações, a última delas no sábado, com 160 mil pessoas em 20 cidades do país.

Em meio a essa reação, o momento decisivo foi a catástrofe da central nuclear de Fukushima em março. Merkel paralisou imediatamente as centrais mais antigas e iniciou um debate sobre o abandono do programa nuclear civil. Detalhe: o governo anterior, de social-democratas e verdes, também prometera deter o programa nuclear.

É interessante assinalar que os verdes são um dos mais poderosos partidos da Alemanha, como legítimos herdeiros dos votos comunistas. Na década de 80, antes da queda do muro de Berlim, os comunistas decidiram extinguir o PC da Alemanha Ocidental e doar todos os bens ao Partido Verde, inclusive o edifício-sede em Hamburgo, todo em vidro fumê, e uma fortuna em ações na Bolsa de Valores.

Naquela época, vivendo num país que já garantira direitos sociais a toda a população e com um regime praticamente de pleno emprego, os comunistas alemães descobriram que a ideologia não tinha mais futuro por lá e preferiram fortalecer o Partido Verde, para lutar contra a chuva ácida, que era um dos maiores problemas do país e hoje está praticamente sob controle.

A TROPA DE CHOQUE EM AÇÃO

Desde ontem José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá dedicam-se em tempo integral à missão quase impossível de obter unidade na bancada de senadores do PMDB para falarem em uníssono durante o almoço a ser oferecido amanhã pela presidente Dilma Rousseff. Querem de seus colegas alguns compromissos, como não sugerirem o afastamento de Antônio Palocci da chefia da Casa Civil, muito menos referências ao súbito enriquecimento do ministro a partir de consultorias prestadas a empresas desconhecidas.
Tentam, também, convencer os senadores do partido a demonstrar simpatia pela supressão da anistia aos desmatadores, aprovada na Câmara. Gostariam que a bancada inteira abrisse um sorriso permanente diante da chefe do governo. E se possível, no final, a bancada inteira elogiasse a cozinha do palácio da Alvorada.
Não parece fácil, mesmo sabendo-se que o senador Jarbas Vasconcelos faltará. O representante de Pernambuco é o único a proclamar-se na oposição, ou seja, fora da base parlamentar do governo e, por isso, dispensado de comparecer.
Como, no entanto, impedir o senador Pedro Simon, outrora demolidor de ministros, de cobrar explicações sobre a consultoria de Palocci? Ou o senador Roberto Requião de acentuar que coordenação política do palácio do Planalto deixa a desejar?
Ignora-se quantos outros comensais estarão presentes, além dos senadores. Com toda certeza o vice-presidente Michel Temer, quem sabe os ministros Antônio Palocci, Gilberto Carvalho e Luiz Sérgio. Este não precisará chegar dentro de uma armadura medieval, mas seria bom blindar-se contra a virulência dos olhares da bancada.
Quanto a saber se os senadores aproveitarão para cobrar nomeações e liberação de verbas da emendas individuais, quem quiser que aposte na negativa, se tiver disposição para perder dinheiro…

FALÊNCIA DA AUTORIDADE PÚBLICA

Fica difícil entender a existência de um governo organizado no Pará, não apenas do atual governo, mas de muitos anteriores. O assassinato de líderes rurais há muito marcados para morrer decorre da completa alienação da autoridade pública diante das agruras de seus governados. Ou, então, de coisa pior, isto é, do conluio entre governantes e quadrilhas de madeireiros, grileiros e fazendeiros sem escrúpulo. O caso, sem discriminações partidárias, seria de intervenção no estado. A Força Federal, sozinha, não resolverá a questão. Nem a Polícia Federal. A situação exige as forças armadas, mas elas só poderão agir a pedido de um dos poderes da União. Quando se ouve falar da possibilidade de redivisão territorial do Pará, com a criação de mais dois estados, o medo é que os problemas, lá, passem a ser três, e não apenas um.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Mais sangue na floresta

No mesmo dia em que, em Brasília, os deputados votavam um Código Florestal adequado ao gosto dos ruralistas, em Nova Ipixuna, no sudoeste do Pará, um casal de seringueiros que lutava pela preservação da Amazônia era assassinado. O crime chocou o País e revelou mais uma vez que os conflitos no campo precisam ser tratados com mais responsabilidade no Brasil. José Cláudio Ribeiro da Silva e sua mulher, Maria do Espírito Santo da Silva, as vítimas da pistolagem, eram considerados os principais sucessores de Chico Mendes, o líder ambientalista assassinado em 1988. Há três anos eles denunciavam a extração irregular de madeira para a produção de carvão e a transformação de áreas de preservação em pasto. Ao enfrentar os madeireiros, o casal virou alvo. Em Nova Ipixuna, os assentados sabiam que era oferecida uma recompensa em dinheiro vivo para quem eliminasse os extrativistas. Não por acaso, antes de fugirem, os pistoleiros arrancaram parte de uma das orelhas de José Cláudio. A prática, que remete ao período feudal, normalmente utilizada como punição a negros fugitivos, serviu para os assassinos apresentarem a prova do serviço ao mandante. “O Pará está de luto. Perdemos os mais ardorosos defensores da nossa floresta”, lamentou a deputada Bernadete Ten Caten (PT-PA).

Código da morte...

"Ruralistas e fisiológicos impuseram uma gravíssima derrota à presidente Dilma Rousseff que prenuncia tempos muito difíceis de chantagens e truculências"

Alfredo Sirkis*
Me senti novamente numa daquelas votações na Câmara de Vereadores do Rio quando o azeitado lobby das empresas de ônibus entrava em ação em defesa de seus intere$$es. Não adiantava argumentar, demonstrar preto no branco. Havia uma maioria previamente armada e "acertada" para dizer qualquer coisa e votar qualquer coisa. No discurso grandiloquente, a redenção da agricultura brasileira, do pequeno produtor, da Pátria e tal contra uma tenebrosa conspiração estrangeira. Defesa da honra do Congresso e do Brasil. Na real, uma mal disfarçada anistia aos desmatadores e a promessa de futuras devastações nas APPs de matas ciliares e topo de morro por intermédio da decretação de "utilidade pública" ao alcance de qualquer prefeito ou câmara municipal dos mais de 5 mil municípios do país. A passagem de competências ambientais cruciais aos estados. Um novo ciclo de desmatamento que se abre para a vergonha do Brasil. Ele já está visível com o aumento brutal da devastação, sobretudo no Mato Grosso, com a simples expectativa ao novo Código.

A base do governo se esfacelou sob a liderança de Aldo Rebelo e Henrique Alves. De nada adiantaram as admoestações do líder do governo Cândido Vacareza. Este cometeu certas inabilidades no tom mas, não nos iludamos, elas não foram decisivas. Já estava tudo armado há tempos: isso era caro nos olhares vazios e nas frases de efeito papagaiadas pelos porta vozes da maioria de conveniência formada ali pelos métodos e prêmios que se advinha facilmente. Talvez nem todos os votos tenham tido essa motivação, mas que rolou, rolou. Na vida parlamentar brasileira a gente sente e percebe perfeitamente quando acontece. Ruralistas e fisiológicos impuseram uma gravíssima derrota à presidente Dilma Rousseff que prenuncia tempos muito difíceis de chantagens e truculências de uma direita econômica que redescobriu sua força de sempre na política brasileira: sua capacidade de cooptação usando as armas mais tradicionais à sua disposição.

* Deputado federal pelo Partido Verde (RJ), do qual é um dos fundadores, tem 60 anos, e foi secretário de Urbanismo e de Meio Ambiente da cidade do Rio de Janeiro e vereador. Jornalista e escritor, é autor de oito livros, dentre os quais Os carbonários (Premio Jabuti de 1981) e o recente Ecologia urbana de poder local. Foi um dos líderes do movimento estudantil secundarista, em 1968, e viveu no exílio durante oito anos.

domingo, 29 de maio de 2011

Palocci é indefensável

LULA, O MAIOR LÍDER POLÍTICO DO PAÍS, DEVERIA SE DEDICAR A CAUSAS MAIS NOBRES
28 de Maio de 2011 às 07:42

Hélio Doyle
Já me perguntaram se não tenho outro assunto que não Palocci. Meus últimos cinco artigos falaram do ministro-chefe da Casa Civil e de seu enriquecimento súbito e não explicado. Reconheço que pode ser um pouco demais e que há mais coisas acontecendo no país e no mundo. Mas abandonar Palocci agora me passa a impressão de estar fazendo o jogo daqueles que apostam no esquecimento, na superação de um escândalo por outro, para que tudo continue como está e o ex-vereador de Ribeirão Preto que ficou milionário só ocupando cargos públicos fique em paz.

O problema é que o caso Palocci tornou-se emblemático. Episódios de corrupção temos todos os dias, em todos os cantos do país – e, se lermos a imprensa de outros países, também lá fora. A corrupção, envolvendo pequena, média ou grande quantia, é distrital, municipal, estadual e nacional. Então, por que Palocci é especial? Simples: porque Palocci está no coração do poder, com gabinete próximo ao da presidente Dilma Rousseff e poderes de um primeiro-ministro. Sua permanência ali é uma ofensa ao povo brasileiro e aos que, como eu, votaram em Dilma e se consideram de esquerda.

Se estivesse tudo certo, Palocci já teria se explicado no primeiro dia e não fugiria da imprensa e do Congresso. O caso teria morrido, como tantos outros, e eu estaria aqui falando de Código Florestal, reforma política, kit anti-homofobia, assassinato de ambientalistas no Pará, Pimenta Neves e a lerdeza da Justiça. Assuntos não faltam. Mas Palocci continua se escondendo e negando às brasileiras e aos brasileiros as explicações que nos deve.

A afirmação da presidente de que Palocci está se explicando aos “órgãos de controle” só reforça as suspeitas. Que explicações? Que órgãos? A fala do ministro aos senadores do PT só mostrou que ele continua tão arrogante quanto antes desse último episódio dentre tantos que o deixam mal. Sim, porque há vários episódios anteriores, desde os tempos de Ribeirão Preto, que deixam o ministro muito mal perante os que nada lhe devem nem lhe admiram. Mas sempre passaram a mão em sua cabeça, aí se incluindo até mesmo ministros do Supremo Tribunal Federal que o absolveram de um crime testemunhado pelo jornalista Paulo Nogueira e pela Caixa Econômica Federal.

Advogados, contadores, jornalistas, amigos, assessores, uma turma grande passou os últimos dias trabalhando na explicação que Palocci encaminhou nesta sexta, finalmente, ao procurador-geral da República. É nisso que Palocci aposta: na aceitação, pelo procurador-geral, de suas justificativas. Aí, dará o caso como transitado em julgado e esperaremos o próximo episódio de corrupção em algum lugar do país.

O que Palocci não esperava era que o Ministério Público Federal no Distrito Federal abrisse um procedimento para investigar a evolução do patrimônio do ministro e as atividades de sua empresa, a Projeto. Dependendo dessas investigações, sob a responsabilidade do procurador Paulo José Rocha, poderá ser aberto um processo cível contra Palocci.

Voltamos ao óbvio: se há explicações, por que não dá-las à imprensa, ao Congresso, à sociedade? E porque foram precisos tantos dias para prepará-las? Ora, porque podem até atender às exigências do formalismo enganador, mas não explicarão o básico: o que o ministro fez, quando era deputado federal, para ganhar tanto dinheiro? Não adianta insistir em dizer que foram consultorias legais. Ninguém, mas ninguém mesmo, acredita – nem os que fingem e fingirão acreditar por conveniência, interesse ou ingenuidade.

Palocci hoje só faz mal ao governo e à presidente Dilma. Se continuar no poder, será ainda pior. A luta política com a oposição não pode ser pretexto para que seja defendido a todo custo, até mesmo com a competente intervenção pessoal do ex-presidente Lula. Palocci demitido do governo é que será um enorme golpe para a oposição, que perderá uma bandeira que desfralda graças à desastrada “blindagem” que o ministro está recebendo. E os “aliados” do governo que chantageiam o governo para proteger o ministro ainda perderão mais esta mina de ouro político.

O ex-presidente Lula deveria, pelo bem do país, dedicar-se a outras causas mais nobres. É, sem dúvida, o maior líder político do Brasil e não ajuda à presidente Dilma, ao governo, ao PT e a si próprio expondo-se como defensor de Palocci. Palocci é indefensável.

15-M aqui também

Lula deveria dedicar-se mais à reforma política e eleitoral que o Brasil precisa. Ele tem condições de liderar um movimento para que as mudanças realmente aconteçam. Diante das dificuldades que tem o Congresso em chegar a um consenso sobre quase todos os pontos de uma reforma, o ex-presidente voltou a levantar a possibilidade de ser convocada uma constituinte exclusiva para votar o tema. Tem razão, porque deputados e senadores darão prioridade a seus interesses e nada mudará de fato.

Não é por nada, mas não custa observar que o movimento de contestação que empolga a Espanha e outros países europeus, o 15-M, tem como bandeiras a reforma política, a democracia participativa, a transparência dos governos e o combate à corrupção.

Nada a ver com Brasil, né?

A agonia do neoliberalismo

Carlos Chagas

Vale, por um dia, começar além da política nacional, arriscando um mergulho lá fora. O que continua a acontecer na Grécia, Portugal, Irlanda e até na França, para não falar no mundo árabe, onde carros, escolas, hospitais e residências comuns estão sendo queimados e saqueados? Qual a razão de multidões de jovens irem para as ruas, enfrentando a polícia e depredando tudo o que encontram pela frente? Tornando difícil a vida do cidadão comum. Por que?

É preciso notar que o protesto vem das massas, começando pelas massas excluídas, de negros, árabes, turcos e demais minorias que buscaram na Europa a saída para a fome, a miséria e a doença onde viviam, mas frustraram-se, cada vez mais segregados, humilhados e abandonados. Exatamente como em seus países de origem. Mas atingindo, também, as classes trabalhadoras e a classe média desses países, certas todas de que vão pagar a conta pela incúria de suas elites.

Não dá mais para dizer que essa revolta é outra solerte manobra do comunismo ateu e malvado. O comunismo acabou. Saiu pelo ralo. A causa do que vai ocorrendo repousa precisamente no extremo oposto: trata-se do resultado do neoliberalismo. Da consequência de um pérfido modelo econômico e político que privilegia os ricos, países e pessoas, relegando os demais ao desespero e à barbárie. Porque sempre que se registra uma crise econômica nas nações neoliberais, a receita é a mesma: medidas de contenção anunciadas para reduzir salários, cortar gastos públicos, demitir nas repartições e nas fábricas, aumentar impostos e taxas.

Fica evidente não se poder concordar com a violência. Jamais justificá-la. Mas explicá-la, é possível. Povos de nações e até de continentes largados ao embuste da livre concorrência, explorados pelos mais fortes, tiveram como primeira opção emigrar para os países ricos. Encontrar emprego, trabalho ou meio de sobrevivência. Invadiram a Europa como invadem os Estados Unidos, onde o número de latino-americanos cresce a ponto de os candidatos a postos eletivos obrigarem-se a falar espanhol, sob pena de derrota nas urnas.

Preparem-se os neoliberais. Os protestos não demoram a atingir outras nações ricas. Depois, atingirão os ricos das nações pobres. O que fica impossível é empurrar por mais tempo com a barriga a divisão do planeta entre um imenso inferno e um pequenino paraíso, entre cidadãos de primeira e de segunda classe. Segunda? Última classe, diria o bom senso.

Como refrear a multidão de jovens sem esperança, também de homens feitos e até de idosos, relegados à situação de trogloditas em pleno século XXI? Estabelecendo a ditadura, corolário mais do que certo do neoliberalismo em agonia? Não vai dar, à medida em que a miséria se multiplica e a riqueza se acumula. Explodirá tudo.

Fica difícil não trazer esse raciocínio para o Brasil. Hoje, 40 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza, sobrevivendo com a metade desse obsceno salário mínimo elevado para 545 reais. Os bancos lucram bilhões a cada trimestre, enquanto cai o poder aquisitivo dos salários. Isso para quem consegue mantê-los, porque, apesar da propaganda oficial, o desemprego continua presente. São 15 milhões de desempregados em todo o país, ou seja, gente que já trabalhou com dignidade e hoje vive de biscates, ou, no reverso da medalha, jovens que todos os anos gostariam de entrar no mercado sem nunca ter trabalhado.

Alguns ingênuos imaginam que o bolsa-família e sucedâneos resolveram a questão, mas o assistencialismo só faz aumentar as diferenças de classe. É crueldade afirmar que a livre competição resolverá tudo, que um determinado cidadão era pobre e agora ficou rico. São exemplos da exceção, jamais justificando a regra de que, para cada um que obtém sucesso, milhões continuam na miséria.

Seria bom o governo Dilma olhar para fora. O rastilho pegou e não serão as polícias que vão apagá-lo. Ainda que consigam, a chama reacenderá maior e mais forte, pouco depois. Na Europa, nos Estados Unidos e sucedâneos. Até ou especialmente entre nós. Faz pouco assistimos tragédias causadas pelas chuvas, com os ricos e os remediados fugindo, mas com a população pobre, majoritária, submetida à morte e à revolta.

A globalização tem, pelo menos, esse mérito: informa em tempo real ao mundo que a saída deixada às massas encontra-se na rebelião. Os que nada tem a perder já eram maioria, só que agora estão adquirindo consciência, não só de suas perdas, mas da capacidade de recuperá-las através do grito de “basta”, “chega”, “não dá mais para continuar”.

Não devemos descrer da possibilidade de reconstrução. O passado não está aí para que o neguemos, senão para que o integremos. O passado é o nosso maior tesouro, na medida em que não nos dirá o que fazer, mas precisamente o contrário. O passado nos dirá sempre o que evitar.

Evitar, por exemplo, salvadores da pátria que de tempos em tempos aparecem como detentores das verdades absolutas, donos de todas a soluções e proprietários de todas as promessas.

sábado, 28 de maio de 2011

A reencarnação de Luiz Inácio LULA VOLTOU E É O EX-PRESIDENTE MAIS PRESIDENTE QUE O BRASIL JÁ CONHECEU

Leonardo Attuch
No ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não se pode condenar a falta de sinceridade. Desde que entregou a faixa presidencial a Dilma Rousseff, ele sempre lamentou a dificuldade para “desencarnar” da presidência da República. Para alfinetar o eterno rival FHC, Lula dizia ainda que seria o melhor “ex” que o Brasil já conheceu, mas o fato é que está se convertendo, aos poucos, no ex-presidente mais presidente de todos os tempos. Resumindo, ele reencarnou.
Tudo ficou escancarado na última semana. Primeiro, Lula assumiu a gestão da crise em torno da Casa Civil. Com a autoridade de quem realmente manda no País, ele decretou: Antonio Palocci fica. E disse ainda, num jantar com senadores, que “não se pode pôr o Pelé no banco de reservas”. Oficialmente, Lula falava de Palocci, mas houve quem desconfiasse de que falasse em primeira pessoa. Afinal, o ministro Gilberto Carvalho também já se referiu a Lula como um Pelé no banco de reservas – e louco para entrar em campo, marcar seus gols e correr para a torcida.
Dias depois, lá estava Lula novamente reunindo-se com os dois principais líderes do PMDB: Michel Temer, vice-presidente da República, e José Sarney, presidente do Senado. Com a sabedoria e a experiência de quem já enfrentou crises políticas bem mais pesadas, Lula deu um conselho bem claro a Dilma: o de que entregasse rapidamente os cargos nos ministérios e nas estatais aos aliados. E “aliados” não são apenas os partidos da base, como PMDB, PP e PSB. Isso vale para o próprio PT, pois na sigla de Lula e Dilma também há muita gente soltando rojões e comemorando o inferno astral de Palocci. A frase mais ouvida nas hostes petistas é sintomática: “Há males que vêm para o bem”.
O resumo da ópera é simples. De agora em diante, o Executivo terá de ser mais humilde e descer do pedestal. Será obrigado a governar com o Congresso e, como dizia Michel Temer, a “repartir o pão” com os aliados. Semelhante ao que ocorreu no próprio governo Lula, quando o então capitão do time, José Dirceu, foi alvejado pelas primeiras denúncias. Embora tenha caído apenas em 2005, depois do escândalo do mensalão, ele começou a sangrar um ano antes, no caso Waldomiro Diniz.
Tanto no passado como agora, a regra é a mesma. O Congresso tem mais apreço por ministros frágeis, mantidos no cargo graças aos favores dos parlamentares, do que por superministros. Lula já sabe disso e, reencarnado, passou a mensagem a Dilma. O pão será repartido e a conta final, para toda a sociedade, será maior.

Hora de avançar MENDONÇÃO FEZ UMA ANÁLISE INTELIGENTE, AO DIZER QUE DILMA ESTÁ À ESQUERDA DE LULA

José Dirceu
Ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) na gestão tucana de Fernando Henrique Cardoso e um dos principais artífices das privatizações, Luiz Carlos Mendonça de Barros concedeu entrevista recentemente ao jornal Folha de S.Paulo em que coloca sob nova perspectiva a avaliação do que é hoje o PSDB e do perfil das políticas econômicas atualmente conduzidas pelo Governo Dilma Rousseff.
Mendonça de Barros sentencia que “o PSDB sofre uma mudança de líderes que não têm a visão estratégia dos que ficaram para trás”, portanto, “é um partido mais medíocre”.
Às vésperas da convenção tucana, a avaliação é o reconhecimento da ausência de alternativas programáticas vindas dos partidos de oposição, resultado da derrocada do modelo neoliberal no país que legou baixo nível de crescimento, alto índice de desemprego, elevada relação dívida/PIB e juros reais nas alturas, entre outras mazelas.
A reversão dessa “herança maldita” no Governo Lula, que desfez as armadilhas neoliberais num primeiro momento e empregou políticas desenvolvimentistas em seguida, representou a estocada final no modelo proposto pelo PSDB. Sem alternativa, o partido se apegou a uma oposição ferrenha, que culminou com a campanha presidencial de baixo nível programático levada adiante por José Serra em 2010. Ficou, assim, à deriva.
Mas o ex-presidente do BNDES produziu também um exame inteligente sobre os rumos gerais da política econômica da presidenta Dilma. Diz ele que a “política econômica [atual] põe o Governo Dilma à esquerda” do Governo Lula, haja vista, por exemplo, a intervenção mais forte do Estado na economia.
De fato, desde que sucedeu os tucanos, o PT e Lula vêm trabalhando para trazer a aliança governista para o campo das esquerdas, em um processo às vezes mais gradual, às vezes mais acentuado, mas contínuo. E os frutos dessa condução são palpáveis: crescimento econômico com geração de empregos recorde e distribuição de renda, redução da relação dívida/PIB, índices de juros mais baixos, aumento do poder de compra do trabalhador.
Nesse sentido, a receita tucana de reduzir o ritmo de crescimento e aumentar os juros para combater a inflação é um equívoco. Já vimos esse filme na história recente do país e não queremos vê-lo novamente. Faz sentido as preocupações com o “excesso de capital externo” no país, talvez hoje o maior problema que temos a enfrentar, mas convém manter uma avaliação permanente dos cenários internacionais, porque uma mudança de rumos lá fora terá repercussões aqui para as quais devemos nos preparar.
O que precisamos neste momento é criar as condições para baixar os juros e seguir crescendo. Afinal, quando esse movimento positivo se dá na economia, os resultados são mais empregos e renda, fortalecendo a criação de um ciclo virtuoso no país.
Aprendemos nos últimos oito anos que uma das chaves do nosso desenvolvimento está no mercado interno. O que precisamos, portanto, é produzir mais e superar os gargalhos nas áreas de serviço, mão de obra, infraestrutura e insumos básicos, realizando as reformas que o país precisa. Há muito trabalho pela frente, sem dúvida. Mas, na contramão do que propõe o economista tucano, é hora de avançar, não de recuar.
José Dirceu, 65, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT

A relação carnal de Palocci com os banqueiros

MIGUEL JORGE O ENSINOU A PEDIR DINHEIRO AOS GRANDES FINANCISTAS E ELE APRENDEU DIREITINHO
27 de Maio de 2011 às 07:40
Hugo Studart
É preciso voltar dez anos no tempo para compreender a incrível, fantástica, inacreditável e extraordinária força de Antônio Palocci na política brasileira. Era novembro de 2000 quando um banco espanhol, o Santander, aparece por essas bandas e arremata, por R$ 7,05 bilhões, o Banespa. Na época, o PT ainda era um partido que se dizia socialista e que tinha entre suas bandeiras a luta contra a corrupção e, principalmente, contra as privatizações que vinham sendo promovidas pela Era tucana. Contra as vendas federais, por FHC. E contra as privatizações paulistas, promovidas por Mário Covas e, depois, Geraldo Alckmin.
No caso do Banespa, cerca de 50 prefeitos petistas, reeleitos ou recém-eleitos, ameaçavam retirar suas contas do banco, agora sob administração espanhola. Prefeituras grandes, as maiores do Estado, como de São Paulo, Bernardo do Campo, Campinas e Ribeirão Preto. Deixariam de movimentar as contas correntes das prefeituras. Pior, as folhas de pagamento. Seria um início desastroso para os espanhóis no Brasil. Mas os espanhóis tinham uma excelente carta na manga, um “rei-de-ouros”, o executivo Miguel Jorge, ex-vice-presidente da Autolatina e da Volkswagen, novo vice-presidente Corporativo do Santander. Miguelão, como é chamado pelos amigos, conhecia o Antônio Palocci, prefeito de Ribeirão Preto.
Era um sujeito meio enrolado em sua terra. Vinha enfrentando acusações de corrupção, como favorecimento de empreiteiras locais, como uma tal de Leão-Leão, especializada em coleta de lixo. O caso mais polêmico daquele momento era o uma concorrência fraudulenta para a merenda escolar das crianças, no qual o prefeito Palocci queria latas de ervilha com molho de tomate – um só fornecedor. Mas Palocci era um sujeito afável, bom de conversa, um caso paradoxal de ex-trotsquista flexível. Miguelão foi procurá-lo e pedir ajuda. O teor da conversa, o acordo, é segredo que ambos devem levar para o túmulo. O fato concreto é que Palocci convocou uma reunião com os prefeitos petistas de sua região, Ribeirão. Ao final, convenceu todos a manter as contas de suas prefeituras no banco multinacional. Na sequência, mais reuniões com prefeitos de outras regiões. E mais outras. Ao fim e ao cabo, Palocci havia convencido toda a prefeitada petista e manter-se fiel ao Santander.
Um ano depois, no início de 2002, acontece uma tragédia no PT. Celso Daniel, prefeito de São Bernardo, é assassinado – em um caso que até hoje a cúpula petista esforça-se para abafar a apuração. Oficialmente, Daniel seria o “coordenador do programa de governo” da candidatura de Lula à Presidência da República. Ora, esse título era só um eufemismo. Na verdade, Celso Daniel seria o arrecadador de recursos da campanha, o PC Farias de Lula. Era essa sua verdadeira função. Mal o caixão baixou à sepultura, Lula anuncia que o prefeito Palocci seria seu novo “coordenador do Programa de Governo”.
Entre Março de Abril de 2002 Lula organiza sua primeira “palestra” para grandes empresários. “Palestra” é o eufemismo para pedir recursos ou, no popular, “passar o chapéu”. Desde a eleição presidencial de 1989, o esquema de arrecadação para grandes campanhas funciona mais ou menos com a mesma ritualística. Primeiro algum amigo empresário organiza uma “palestra” com o candidato, seja ele Collor, FHC, Serra ou Lula, e convida banqueiros ou capitães da indústria. É um encontro relativamente público. Nem tão ostensivo a ponto de chamar a atenção de gente miúda. Nem tão reservado a ponto de chamar a atenção da imprensa. Esses encontros sempre obedecem ao mesmo ritual. O candidato fala suas intenções para a economia e os empresários fazem perguntas.
O mais importante desses encontros é observar a principal companhia do candidato. Ou seja, quem o candidato vai apresentar aos empresários. Naquele encontro, Lula levou Antônio Palocci. Apresentou-o como “meu coordenador do Programa de Governo”. Trocaram cartões, Palocci e os empresários. Cerca de 20 naquele primeiro encontro. Mas Palocci era tão caipira, tão inexperiente, estava tão deslumbrado com a nova função, que ensaiou pedir dinheiro naquele encontro, na frente de todo mundo. Levou um puxão de orelhas do preceptor Miguel Jorge. O executivo, que mais tarde seria convocado por Lula para ser ministro do Desenvolvimento, explicou em pânico ao afilhado deslumbrado que, ali, em um convescote público, ele não poderia pedir nada a ninguém, em hipótese alguma.
Deveria se ater a sorrir amarelo e trocar cartões de visitas. Primeiro porque o candidato estava presente. Jamais deveria pedir dinheiro na frente do candidato. Segundo porque seria pecado mortal falar de dinheiro com um empresário na frente de outro empresário. Um não poderia saber com quanto o outro contribuiu – nem se contribuiu. Antônio Palocci tem um grande mérito – e sobre esse mérito todos nós temos que admitir. Palocci aprende rápido. Aprendeu rápido a ser arrecadador. Aliás, um excelente arrecadador. Lula ficou encantado com o jeitinho sonso daquele prefeito. Vitorioso nas urnas, Lula deu-lhe então uma missão ainda mais difícil, a de coordenar o serpentuário que virou a equipe de transição. Palocci, jeitoso como ele só, saiu-se bem.
Acabou ministro da Fazenda com uma única credencial, naquela ocasião – virara um expert em multiplicar o patrimônio da caixinha de campanha de Lula. Nos três anos em que esteve no cargo, Palocci esmerou-se em manter uma política econômica ainda mais ortodoxa do que a de Pedro Malan. A aliança com o Santander logo estendeu-se ao Bradesco. E do Bradesco ao Unibanco, que foi comprado pelo Itaú com providencial ajuda do consultor Palocci. Com Palocci na Fazenda, nunca antes nesse país os bancos lucraram tanto. Aquele médico sanitarista, que jamais segurou num estetoscópio, acabou se tornando o principal fiador da política econômica dos grandes bancos instalados no Brasil.
Quando Palocci caiu da Fazenda, em março de 2006, naquela crise com o caseiro Francenildo, passou um tempinho na geladeira. Mas não muito tempo. Lula estava em baixa pelo escândalo do mensalão e tinha uma eleição presidencial pela frente. Nos bastidores, coube justamente a Palocci fazer as primeiras arrecadações junto aos banqueiros amigos, as primeiras apostas na difícil reeleição de Lula. Mais uma vez saiu-se bem. Vem daí uma imensa força e prestígio junto a Lula. Palocci é hoje o principal homem de Lula no governo Dilma, seu Rasputin, seu olheiro.
Essas histórias explicam por que Lula joga todas as cartas para manter Palocci no poder. Mas por que tantos senadores e deputados fingem que está tudo bem com Palocci? Ora, por conta dos bancos, principais financiadores das campanhas políticas. Cada um dos senadores instalados (senão todos, quase todos), da base aliada ou da oposição, recebeu a ração de campanha dos três grandes bancos privados – Bradesco, Itaú e Santander. A grande imprensa também.
Por essa razão, enquanto os executivos do Bradesco, Itaú e Santander quiserem que Antônio Palocci fique no poder, Palocci fica! E ai de quem se rebelar. Vai morrer à míngua, sem ração financeira. Seja deputado ou senador, petista ou tucano, seja revista, jornal ou televisão, a ordem dos banqueiros é, por enquanto, é manter Palocci exatamente onde está. E a presidente Dilma, também ela, que não se atreva a colocar as unhas de fora.

SE O MINISTRO TIVESSE BOAS EXPLICAÇÕES, JÁ AS TERIA DADO

O medo de Palocci
26 de Maio de 2011 às 20:29
Hélio Doyle
Por que o ministro Antonio Palocci está demorando tanto a explicar como ganhou de R$ 20 milhões em um ano eleitoral? Por que o governo impede a qualquer custo que ele dê essas explicações ao Congresso?
Independentemente das respostas, pode-se chegar à conclusão de que Palocci ainda não tem como se explicar. Tendo advogados, contadores, jornalistas e administradores de crises muito bem remunerados à sua disposição, não há justificativa para o ministro nada falar e se esconder de deputados e senadores. Quer dizer: não haveria justificativa se ele soubesse como explicar as atividades de “consultoria” quando era deputado federal e coordenador da campanha de Dilma Rousseff.
Quem tem o que dizer, não tem medo de dizer. O melhor para Palocci, para a presidente Dilma e para o governo teria sido o ministro ter dado logo suas explicações e aí sim, o caso ser dado como encerrado. Não é nenhum absurdo um ministro comparecer ao Congresso para dar explicações a parlamentares, mesmo no presidencialismo. Pelo contrário, deveria ser normal. A não ser que tenha medo do enfrentamento e não tenha explicações convincentes. Parece ser essa a situação de Palocci.
Não vale a desculpa de que a oposição quer é travar uma luta política e desgastar o governo, e por isso não se recomenda a ida do ministro. Travar luta política e tentar desgastar o governo é, obviamente, próprio de qualquer oposição. Ter medo de travar a luta política e assim evitar o desgaste não é natural para um governo que tem ampla maioria parlamentar. Palocci, até agora, não deu explicações razoáveis sequer aos líderes governistas que têm feito de tudo para impedir que ele seja chamado ao Congresso.
O esforço para evitar que Palocci tenha de se explicar ao Congresso é tão grande que o ex-presidente Lula veio a Brasília para assumir a coordenação política do governo de Dilma. Lula está exercendo essas funções informais com desenvoltura e já deixou claro que Palocci é importante para o governo e não pode cair.
A presidente ainda cedeu à chantagem de parlamentares que representam o fundamentalismo cristão e desautorizou publicamente seus ministros da Educação e da Saúde ao cancelar a produção e distribuição do chamado “kit anti-homofobia”, ou, para os preconceituosos, “kit gay”. Pode ser até que a presidente não tenha gostado mesmo do que viu, mas tomar a decisão nesse momento mostrou claramente o medo de que os fundamentalistas viessem a apoiar a convocação de Palocci.
O roteiro do governo é claro:
- mobiliza as bancadas governistas para impedir a todo custo que Palocci seja convocado a dar explicações ao Congresso.
- aproveita os 15 dias dados pelo procurador-geral para que o ministro se explique, contando com o esvaziamento do assunto na imprensa e no Congresso. E tendo tempo para “arrumar” as explicações.
- acaba com o assunto se o procurador-geral, como esperam, conclua que não há o que investigar.
O problema, como sempre, é combinar com o adversário. Palocci está demonstrando que tem muita força em um governo que se submete a um desgaste desnecessário para mantê-lo a qualquer custo. Provavelmente sobreviverá, mas com enorme ônus, que o tempo mostrará, para ele e para a presidente Dilma.
Caso julgado
Por um voto de diferença, 5 a 4, os ministros do Supremo Tribunal Federal absolveram Palocci da acusação de ter violado o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Depois disso, um respeitado jornalista, Paulo Nogueira, revelou que foi o próprio ministro que levou os dados do caseiro ao comando das organizações Globo. E a Caixa Econômica Federal informou que quem vazou os números foi mesmo Palocci.
Mas não custa lembrar que quem acusou Palocci na época, e insistiu na tese de que ele era culpado, foi o procurador-geral Roberto Gurgel, que agora receberá as explicações sobre o enriquecimento súbito.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Para que serve o vice-presidente? De 1889 a 1946, muitas atribuições.

Presidia o Senado, além de substituir o presidente que viajava. Ou derrubá-lo, quando lhe interessava. Chegamos ao inútil, inexpressivo e inócuo Temer.

Helio Fernandes

Com exceção dos dois marechais que usurparam a República e se transformaram em seus “proprietários”, os outros vices, durante 57 anos (de 1889 a 1946) presidiam o Senado, na falta do que fazer. Pois na verdade eram “segundos”.

Floriano foi o primeiro a quebrar a ética e a linhagem da sucessão. Em 3 de novembro de 1891, Deodoro fechou o Congresso, prendeu quem o atrapalhava, fosse parlamentar, ministro de estado ou mesmo ministro do Supremo. Não aguentou, em 23 do mesmo novembro foi derrubado pelo vice, que afirmou: “Deodoro renunciou”, e ficou no lugar dele.

Fosse ou não verdade, Floriano devia assumir. E se isso acontecesse na primeira metade do mandato, realizar eleições. Depois da metade, completaria o mandato. (O que aconteceu em 1909 com Nilo Peçanha. O presidente Afonso Pena morreu faltando apenas 17 meses para o fim do mandato, o vice assumiu até o fim).

Empossado, Floriano não fez nenhum movimento para deixar o cargo ou convocar eleição. Rui Barbosa, senador, protestou, ameaçado de prisão, teve que se asilar. Na Argentina e no Uruguai. Em 1894 terminava o mandato, usurpado e ilegítimo, Floriano não convocou eleição, mas assim mesmo Prudente de Moraes foi eleito.

Num calor terrível, nada preparado, sem transporte (nesse mesmo 1894, o genial Henry Ford lançava o primeiro automóvel), indo até a Rua Primeiro de Março num “tilbury” e de casaca, Prudente se empossou.

Na época e até a primeira ditadura que começou em 1930, os vices vinham geralmente do Norte/Nordeste. O primeiro vice civil foi Manuel Vitorino, da Bahia. Entrou na História pela façanha: como interino, mudou a sede do governo. Prudente foi se operar, ele assumiu, comprou o Palácio das Águias (depois retificado e ratificado justamente como do Catete).

O presidente trabalhava no belo Palácio do Itamarati, na Rua Larga (depois, Marechal Floriano). Transferiu o governo, na sede então vazia colocou o Ministerio das Relações Exteriores. Contra a expectativa geral, meses depois, Prudente voltou, reassumiu, ninguém mais falou em Manuel Vitorino.

A Constituinte, eleita em 1945 e começando a trabalhar em 1946, regulamentou a linha de sucessão, mudando a ordem. Antes era: primeiro, o vice, (que presidia o Senado), segundo, o presidente do próprio Senado, terceiro, o da Câmara, quarto, o do Supremo. Era muito Senado, todos concordavam.

A Constituinte, acertadamente colocou como sucessor do vice, o presidente da Câmara. Depois vinha o presidente do próprio Senado. O vice eleito (?) continuava presidindo o Senado, com direito a voz, mas não a voto.

O primeiro vice que nunca foi ao Senado, Venceslau Brás, vice de Hermes da Fonseca, e em 1914 presidente da República. Como era rompido pessoalmente com o senador Pinheiro Machado (assassinado em 1915), não quis criar atrito.

Diversos vices assumiram. Muitas vezes por conspirações veladas ou ostensivas, lideradas por eles mesmos. São muitos, e pelos motivos os mais diversos. Conspiração (Café Filho), morte (Sarney), renúncia (João Goulart). Por isso, o Brasil tem quase tantos vices que assumiram, quanto presidentes eleitos. (Que não terminaram o mandato).

Agora chegamos ao fim do poço, com o inefável Michel Temer. Por que foi escolhido? Sem voto, sem prestígio, sem representatividade, não levou um voto a Dona Dilma, e ainda tirou muitos, mas muitos mesmo.

Até José Sarney, nas circunstâncias, mais importante e necessário. Era preciso fazer a transposição do São Francisco, perdão, da ditadura para uma nova experiência. E diga-se: Sarney não queria ser vice de Tancredo e sim de Maluf.

Péssimo analista, excelente adesista, mandou um jornalista (infelizmente, já morto) falar com o corruptíssimo de São Paulo. Este recusou seu nome, Tancredo aceitou, aconteceu o que aconteceu.

Não é de hoje que se recebe denúncias a respeito de irregularidades, Temer jamais respondeu ou refutou coisa alguma. Assim mesmo foi indicado a vice pelo PMDB mais podre que já existiu.

Os “autênticos” do MDB, que ainda estão vivos, revoltados com a escolha. Os que já se foram, devem dizer; “Para isso lutamos tanto, nos sacrificamos?”

Michel Temer nem vai ao Senado, embora seja “o pai e a mãe” da reforma política amaldiçoada, aprovada lá mesmo no Senado. E que felizmente será torpedeada na Câmara.

***

PS – Vice, Temer continua presidente do PMDB, lógico, licenciado. O PMDB passa recibo: “Não temos outro nome para presidir o partido. Ou Temer ou nada”.

PS2 – Que Republica, perdão, que vice, que se parece mais com vice-versa.

PS3 – Agora o Brasil tem um presidente, um vice e o senhor dos anéis, Luiz Inácio Lula da Sil

va. Ninguém esperava que a sucessão de 2014 se resolvesse tão facilmente.

PS4 – Lula só teve problema em 1989, 1994 e 1998. A partir daí, e até onde a vista pode abranger ou atingir, aparece o sucessor de Dona Dilma, de corpo inteiro.

Fonte: Tribuna da Imprensa

Dilma não vai mudar de estilo

Carlos Chagas

A presidente Dilma Rousseff agradece conselhos, sugestões e palpites, podendo até considerá-los, mas manterá seu estilo de governar. Não é papel carbono ou vídeo-tape, sequer do Lula. Reconhece a necessidade de aproximar-se mais de sua base parlamentar, ainda que a aproximação não signifique ceder a pressões para nomeações em profusão ou liberação indiscriminada de recursos para emendas parlamentares.

Jamais repetirá a performance do antecessor, de estar todo dia na mídia, falando sobre tudo e sobre todos, por escrito ou de improviso. Seu estilo é de gestora, dando preferência a reuniões com auxiliares e com representantes da sociedade, para enfrentar problemas, em vez de frequentar palanques. Não vai se transformar em garota-propaganda do próprio governo.

É impulsionada por boas intenções, de um lado, mas também por interesses escusos, de outro, essa pressão atualmente desencadeada sobre Dilma para trocar de perfil e mudar sua natureza de ser. Tem gente achando que ela deveria seguir em gênero, número e grau o modelo desempenhado pelo Lula, mas acontece que o Lula é único. Inimitável. Depois, porque os tempos são outros. Existem, no reverso da medalha, aqueles que tentam tirar partido do estilo da presidente, imaginando fraqueza onde ela tem demonstrado segurança. PMDB e PT, em parte, resolveram testá-la, exigindo que satisfaça interesses fisiológicos, como se o governo fosse um bolo a ser repartido. A votação do Código Florestal, na Câmara, demonstrou as intenções da banda podre da base governamental, mas o caso continua inconcluso, tendo em vista a votação no Senado.

O episódio Antônio Palocci enfraqueceu a todos, em especial o próprio, mas permanecendo ou saindo o chefe da Casa Civil, é pequena a diferença entre o que agora acontece e a anterior quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo. São percalços inerentes a qualquer administração, naturalmente divulgados pelos meios de comunicação e aproveitados pela oposição e por alguns falsos aliados.

Em suma, enganam-se quantos imaginam a presidente disposta a mudar a estratégia de governar, submetendo-se a figurinos exógenos. Até porque, sua aceitação junto à opinião pública, amplamente reconhecida nas pesquisas recentes, deve-se ao seu estilo.

Em menos de seis meses

Helio Fernandes

Dona Dilma se transformou em Inês de Castro, que foi (rainha) sem nunca ter sido. Está resolvida a sucessão de 2014, mas ela pode ficar até lá, demitindo o corrupto Palocci.
Imaginavam muita coisa, especulavam se Dona Dilma seria a sucessora de si mesma em 2014 ou se Lula voltaria a ser eleito. As duas hipóteses eram examinadas, pesadas, analisadas. E como Dona Dilma foi escolhida, imposta, eleita e empossada por Lula, não seria surpreendente que reivindicasse (leia: exigisse) o lugar que era dele.
Mas substituir a presidente que ele mesmo elegeu, antes de completados 6 meses, é espantoso, assombroso e até perigoso. Convenhamos, a culpa é da própria Dilma, que abriu as portas da fortaleza para a invasão.
O artífice da crise foi o corrupto Palocci, que “protegido” por Dona Dilma, acabou por sepultá-la, isolá-la politicamente e comprometer seu futuro e sua carreira. Agora, a saída de Dilma é demitir o Chefe da Casa Civil, se firmar e mostrar ao país: “Lula é meu amigo, mas quem manda no Planalto sou eu”.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Honda City brasileiro!

- Honda City brasileiro é lançado no México com preço inicial de R$ 25.800 ? Como é possível?


A Honda lança no México o novo City. O sedan brasileiro, produzido na fábrica da Honda localizada em Sumaré-SP, chega ao mercado mexicano com apenas duas importantes diferenças: a primeira é a entrega com mais equipamentos desde a versão de entrada e a segunda é o preço equivalente a menos da metade do cobrado no Brasil.

No México, todas as versões são equipadas com freios a disco nas quatro rodas com ABS e EBD, airbag duplo, ar condicionado, além dos vidros, travas e retrovisores elétricos. O motor é o mesmo que equipa a versão vendida no Brasil, ou seja, um 1.5 litro que entrega 116 cv de potência.

Por lá, a versão de entrada será oferecida por 197 mil pesos mexicanos, o que equivale a cerca de R$ 25.800. No Brasil, o City LX com câmbio manual (versão de entrada), que não conta com freios ABS, têm preço sugerido de R$ 56.210.


Mesmo lembrando que Brasil e México possuem um acordo comercial que isenta a cobrança de impostos de importação, fica a pergunta: Como é possível um carro fabricado no Brasil ser vendido, com lucro, por menos da metade do preço em outro país?

Fonte: http://carplace.virgula.uol.com.br/honda-city-brasileiro-e-lancado-no-mexico-com-preco-inicial-de-r-25-800-como-e-possivel/

E não é só imposto; o lucro exorbitante das montadoras no Brasil alivia as perdas em outros mercados, os trouxas macaquitos pagam para sustentar a vida na Europa, EUA e Japão, onde continua tudo igual. Somos os colonizados; temos que trabalhar e fechar o bico.


SOMOS OU NÃO PALHAÇOS?
SOMOS PALHAÇOS?!
AINDA TEM DÚVIDAS?!

TEM UM JEITO MUITO SIMPLES DE DERRUBAR A LONA DESTE CIRCO.
VAMOS TODOS FICAR UM ANO SEM COMPRAR CARRO ZERO.
GENTE! APENAS UM ANO E VAMOS VER O REVERTÉRIO QUE VAI DAR .
VAMOS DIVULGAR AMPLAMENTE ESTA MENSAGEM E ADERIR MACIÇAMENTE A ESTA PROPOSTA.
ESTA VERGONHA SÓ CONTINUARÁ SE O POVO BRASILEIRO QUISER.
SÓ DEPENDE DE NÓS!

AUGUSTO NUNES - O caseiro do Piauí e a camareira da Guiné


AUGUSTO NUNES

O caseiro do Piauí e a camareira da Guiné

Nascido no Piauí, Francenildo Costa era caseiro em Brasília. Em 2006, depois de confirmar que Antonio Palocci frequentava regularmente a mansão que fingia nem conhecer, teve o sigilo bancário estuprado a mando do ministro da Fazenda.

Nascida na Guiné, Nafissatou Diallo mudou-se para Nova York em 1998 e é camareira do Sofitel há três anos. Domingo passado, enquanto arrumava o apartamento em que se hospedava Dominique Strauss-Kahn, foi estuprada pelo diretor do FMI e candidato à presidência da França.

Consumado o crime em Brasília, a direção da Caixa Econômica Federal absolveu liminarmente o culpado e acusou a vítima de ter-se beneficiado de um estranho depósito no valor de R$ 30 mil.

Francenildo explicou que o dinheiro fora enviado pelo pai. Por duvidar da palavra do caseiro, a Polícia Federal resolveu interrogá-lo até admitir, horas mais tarde, que o que disse desde sempre era verdade.

Consumado o crime em Nova York, a direção do hotel chamou a polícia, que ouviu o relato de Nafissatou. Confiantes na palavra da camareira, os agentes da lei descobriram o paradeiro do hóspede suspeito e conseguiram prendê-lo dois minutos antes da decolagem do avião que o levaria para Paris ─ e para a impunidade perpétua.

Até depor na CPI dos Bingos, Francenildo, hoje com 28 anos, não sabia quem era o homem que vira várias vezes chegando de carro à "República de Ribeirão Preto". Informado de que se tratava do ministro da Fazenda, esperou sem medo a hora de confirmar na Justiça o que dissera no Congresso. Nunca foi chamado para detalhar o que testemunhou.

Na sessão do Supremo Tribunal Federal que julgou o caso, ele se ofereceu para falar. Os juízes se dispensaram de ouvi-lo. Decidiram que Palocci não mentiu e engavetaram a história.

Depois da captura de Strauss, a camareira foi levada à polícia para fazer o reconhecimento formal do agressor. Só então descobriu que o estuprador é uma celebridade internacional. A irmã que a acompanhava assustou-se. Nafissatou, muçulmana de 32 anos, disse que acreditava na Justiça americana.

Embora jurasse que tudo não passara de sexo consensual, o acusado foi recolhido a uma cela.

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Nesta quinta-feira, Francenildo completou cinco anos sem emprego fixo.

Palocci completou cinco dias de silêncio: perdeu a voz no domingo, quando o país soube do milagre da multiplicação do patrimônio. Pela terceira vez em oito anos, está de volta ao noticiário político-policial.

Enquanto se recupera do trauma, a camareira foi confortada por um comunicado da direção do hotel: "Estamos completamente satisfeitos com seu trabalho e seu comportamento", diz um trecho. Nesta sexta-feira, depois de cinco noites num catre, Strauss pagou a fiança de 1 milhão de dólares para responder ao processo em prisão domiciliar. Até o julgamento, terá de usar uma tornozeleira eletrônica.

Livre de complicações judiciais, Palocci elegeu-se deputado, caiu nas graças de Dilma Rousseff e há quatro meses, na chefia da Casa Civil, faz e desfaz como primeiro-ministro.

Atropelado pela descoberta de que andou ganhando pilhas de dinheiro como traficante de influência, tenta manter o emprego. Talvez consiga: desde 2003, não existe pecado do lado de baixo do equador.

O Brasil dos delinquentes cinco estrelas é um convite à reincidência.

Enlaçado pelo braço da Justiça, Strauss renunciou à direção do FMI, sepultou o projeto presidencial e é forte candidato a uma longa temporada na gaiola. Descobriu tardiamente que, nos Estados Unidos, todos são iguais perante a lei. Não há diferenças entre o hóspede do apartamento de 3 mil dólares por dia e a imigrante africana incumbida de arrumá-lo.

Altos Companheiros do PT, esse viveiro de gigolôs da miséria, recitam de meia em meia hora que o Grande Satã ianque é o retrato do triunfo dos poderosos sobre os oprimidos. Lugar de pobre que sonha com o paraíso é o Brasil que Lula inventou. Colocados lado a lado, o caseiro do Piauí e a camareira da Guiné gritam o contrário.

Se tentasse fazer lá o que faz aqui, Palocci teria estacionado no primeiro item do prontuário.

Se escolhesse o País do Carnaval para fazer o que fez nos Estados Unidos, Strauss só se arriscaria a ser convidado para comandar o Banco Central.

O azar de Francenildo foi não ter tentado a vida em Nova York.

A sorte de Nassifatou foi ter escapado de um Brasil que absolve o criminoso reincidente e castiga quem comete o pecado da honestidade.

Por: Alzira Miranda

E-mail recebido de várias fontes

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O plebiscito no Pará e o futuro da federação


lucia | categoria Política

Anda rápido no Congresso a proposta de realização de um plebiscito para decidir sobre a divisão do estado do Pará em três: Tapajós, Carajás e Pará.

Se vai ser aprovado pela população não sei, mas reacende a discussão da divisão político-administrativa do país.

A configuração geográfica do Brasil é resultado de divisão territorial realizada majoritariamente no século XIX, como resultado de identidades regionais construídas desde a Colônia.

Mas ao longo do século XX formaram-se novas identidades, a partir de interesses econômicos, culturais e mesmo estratégicos.

Hoje tramitam no Congresso projetos para a criação dos estados de Tapajós, Carajás, Maranhão do Sul, Solimões, Araguaia, Planalto Central, Mato Grosso do Norte, Rio São Francisco, Triângulo Mineiro, São Paulo do Leste, entre outros.

Mesmo que nem todos estes projetos se transformem em novos estados, uma constatação é perfeitamente visível: não se consegue mais administrar, em regime democrático, um país das dimensões do Brasil.

Como estamos tentando fazer até hoje, fingindo desconhecer as reais dimensões do país.

Não com o poder centralizado no governo federal. A radicalização da federação e da descentralização é condição mesma do avanço civilizatório no Brasil.

Não há Polícia Federal nem Forças Armadas que deem conta do controle das fronteiras nacionais e, ainda mais, das divisas estaduais para evitar o contrabando de armas e drogas.

Só com população instalada nas divisas e uma polícia estadual dedicada.

Claro que, junto com os benefícios, vêm também as críticas: aumento do gasto público.

Novas estruturas de governo, novas Assembleias Legislativas, Tribunais de Justiça, cabides de emprego.

Para romper esse “círculo de giz” que faz com que nada mude, é preciso romper com a forte tradição positivista e unitária do Brasil, que obriga à reprodução das estruturas da União em todos os estados e todos os municípios.

Os gastos com nova estrutura administrativa poderiam ser compensados com economia nos gastos federais nessas regiões.

E aí parece residir o nó do problema: a sanha do governo federal em se apoderar de recursos gerados nos estados e municípios. E a recusa em abrir mão.

Radicalizar a federação e retirar poder e recursos das mãos dos burocratas do governo federal são a única chance de termos futuro como nação democrática e civilizada.

Federação já!