O tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira, ex-comandante de um Batalhão da PM do Rio, teve sua prisão decretada pela Justiça sob acusação de mandante, senão o único, pelo menos um deles, do assassinato da juiza Patrícia Acioli, que chocou a opinião pública. O cabo Sérgio da Costa Junior para denunciá-lo, obteve a delação premiada, e por isso está em local oculto, assumiu ter acionado o gatilho da morte.
Excelente reportagem de duas páginas de Vera Araujo e Sérgio Ramalho, O Globo de quarta-feira, com foto de Bruno Gonzales, causou impacto ao iluminar o sinistro episódio.Um tenente-coronel da Polícia Militar acusado de assassinato por emboscada, e também por participação no tráfico de drogas, é preso e o governador Sérgio Cabral fica em completo silêncio? Incrível isso. Pode ser que se encontre fora do país, mas e o vice Luis Fernando Pezão? Estranha a omissão de ambos. Principalmente, é claro, do chefe do executivo.
O que está de fato acontecendo? A trama apontada pelo cabo, que assumiu o papel de um dos executores de Patrícia Acioli, envolve também um tenente: Daniel Benito. E mais nove PMS igualmente presos e recolhidos a uma unidade da corporação. O comando geral da PM, portanto, reagiu ao ato hediondo e covarde. Mas o governador ainda não se pronunciou. Deve se pronunciar, sob pena de ser considerado omisso, porque ficou evidente a existência de uma teia macabra de corrupção, conivência com o comércio de drogas, que em certos casos culmina com assassinato.
São vários crimes em sequência. Sobretudo porque, como assinalou o cabo da morte, a articulação para exterminar Patrícia Acioli, de forma vil, como ocorreu, foi iniciada em abril. De abril a agosto são quatro meses de encontros e, claro, troca de informações. Onde estava a rede de inteligência policial? Uma sequência assassina não se forma da noite para o dia. E se, além do tenente-coronel e do tenente Benito, mais nove PMS já foram presos, é porque o projeto circulava abertamente nas costas, não apenas do comando geral da PM, mas também nas costas do secretário Mariano Beltrame, e nas costas do próprio governador.
Foi assim uma falha tremenda, de proporções gigantescas. Pois como é possível que o setor de Inteligência ignore o fato de o tenente-coronel Cláudio Luiz exigir de subordinados a participação em apreensões de drogas. Não era só a leniência, mas um sistema financeiro de compra e venda dentro de um sistema que tem a responsabilidade de exatamente combater tal comércio. Passaram-se meses e não se identificou nenhum movimento nas sombras? Impossível. Tal lacuna revela que a rede da ilegalidade era maior do que aquele da qual já se supunha.
Onde estava e o que fez a Casa Militar do Palácio Guanabara? São respostas que, primeiro, o governador Sérgio Cabral deve obter para, depois, liberar seu conteúdo à opinião pública. A sociedade tem o pleno direito de ser informada sobre a desarticulação que envolve o poder público, inclusive para que possa, nos limites da lógica e do possível, contribuir para que a ordem, enfim, substitua a desordem.
O assassinato da juíza Patrícia, de outro lado, apresenta diversos reflexos políticos, como é natural e invariavelmente acontece. Em primeiro lugar o enfraquecimento da imagem do próprio Sérgio Cabral. Em segundo, a perda de espaço do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, um homem honesto e digno, mas cercado por uma minoria de desonestos e indignos no sistema Policial. Num terceiro estágio, o crescimento da candidatura a prefeito do Rio do deputado Marcelo Freixo que poderá remeter o rumo das urnas de 2012 para o segundo turno com Eduardo Paes. Porque inclusive são vários os candidatos: Otávio Leite, Andrea Gouveia Vieira, Aspásia Camargo. Numa quarta escala, o assassinato da juíza reflete negativamente na candidatura do vice Luiz Fernando Pezão, este o nome preferido do governador à sua sucessão em 2014.
Em matéria de política, aliás como na vida, um acontecimento de impacto nunca é um fato isolado. Ao contrário.