quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Religião e espiritualidade se transformaram em mercadorias

Leonardo Boff Na cultura atual, a palavra “espírito” é desmoralizada em duas frentes: na cultura letrada e na cultura popular. Na cultura letrada dominante, “espírito” é o que se opõe à matéria. A ciência moderna se construiu sobre a investigação e a dominação da matéria. Penetrou até as suas últimas dimensões, as partículas elementares, até o campo Higgs, no qual se teria dado a primeira condensação da energia originária em matéria: os tão buscados bósons e hádrions e a chamada “partícula de Deus”. Einstein comprovou que matéria e energia são equipotentes. Matéria não existe. É energia altamente condensada e um campo riquíssimo de interações. Os valores espirituais situam-se na superestrutura e não cabem nos esquemas científicos. Seu lugar é o mundo da subjetividade, entregue ao arbítrio de cada um ou a grupos religiosos. Ou, então, pertence ao repertório do discurso eclesiástico moralizante, espiritualizante e em relação hostil com o mundo moderno. Em razão disso, a expressão “valores espirituais” surge com mais frequência na boca de padres e de bispos de viés conservador. Deles se ouve amiúde que a crise do mundo contemporâneo reside fundamentalmente no abandono do mundo espiritual. Mas, diante dos escândalos havidos nos últimos tempos com os padres pedófilos e dos financeiros ligados ao Banco do Vaticano, o discurso oficial dos “valores espirituais” se desmoralizou. Não perdeu valor, mas a instância oficial que os anuncia conta com muito pouca audiência. ESPIRITISMO Na cultura popular, a palavra “espírito” possui grande vigência. Ela traduz certa concepção mágica do mundo, à revelia da racionalidade aprendida na escola. O espiritismo codificou essa visão de mundo pela via da reencarnação. Possui mais adeptos do que se suspeita. No entanto, nos últimos decênios, nos demos conta de que o excesso de racionalidade em todas as esferas e o consumismo exacerbado geraram saturação existencial e, também, muita decepção. A felicidade não se encontra na materialidade das coisas, mas em dimensões ligadas ao coração. Por toda parte, buscam-se experiências espirituais novas, sentidos de vida que vão além dos interesses imediatos e da luta cotidiana pela vida. Eles abrem uma perspectiva de iluminação e de esperança no meio do mercado de ideias e de propostas convencionais. Elas ganharam força através dos programas de TV e dos grandes “shows” religiosos. Numa sociedade de mercado, a religião e a espiritualidade se transformaram também em mercadorias à disposição do consumo geral. E rendem muito dinheiro. Não obstante a referida mercantilização do religioso, o mundo espiritual começou a ganhar fascínio, embora, na maioria das vezes, na forma de esoterismo e de literatura de autoajuda. Mesmo assim, ele abriu uma brecha na profanidade do mundo e no caráter cinzento da sociedade de massa. Nos meios cristãos emergiram as Igrejas pentecostais, os movimentos carismáticos e a centralidade da figura do Espírito Santo. Esses fenômenos supõem um resgate da categoria “espírito” num sentido positivo e até antissistêmico. O “espírito” constitui uma referência consistente e não mais colocada sob suspeita pela crítica da modernidade, que somente aceitava o que passava pelo crivo da razão. Ocorre que a razão não é tudo nem explica tudo. Há o irracional e o arracional. No ser humano, há o universo do sentimento, que se expressa pela inteligência cordial e emocional. O espírito não se recusa à razão, mas vai além, englobando-a num patamar mais alto. Em termos da nova cosmologia, ele seria tão ancestral quanto o universo, este, também portador de espírito. A era do espírito? (transcrito de O Tempo)
Tão logo os PETISTAS souberam do anuncio da RENUNCIA do PAPA BENTO XVI, imediatamente lançaram a CANDIDATURA do NEURÔNIO ISOLADO, o MESSIÂNICO e APEDEUTA LULA da SILVA. Será Luiz 51 O Candidato alega que será o primeiro “CUMPANHÊRO” PAPA da história a lançar em todo o mundo o programa PAPAL que se chamará “BOLSA ORAÇÃO.”

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O Papa e as tensões internas da Igreja no mundo e na história. Diálogo urgente, caso a instituição queira sair da crise.

Leonardo Boff Há uma tensão sempre viva dentro da Igreja e que marca o perfil de cada papa. Quais são a posição e a missão da Igreja no mundo? Uma concepção equilibrada deve assentar-se sobre duas pilastras fundamentais: o Reino e o mundo. O Reino é a mensagem central de Jesus, sua utopia de uma revolução absoluta que reconcilia a criação consigo mesma e com Deus. O mundo é o lugar onde a Igreja realiza seu serviço ao Reino e onde ela mesma se constrói. Importa saber articular Reino-mundo-Igreja. Ela pertence ao Reino e também ao mundo. Possui uma dimensão histórica com suas contradições e outra, transcendente. Como viver essa tensão dentro do mundo e da história? Apresentam-se dois modelos diferentes e, por vezes, conflitantes: o do testemunho e o do diálogo. O modelo do testemunho afirma com convicção: temos o depósito da fé, dentro do qual estão todas as verdades necessárias para a salvação; temos os sacramentos que comunicam a graça; temos uma moral bem-definida; temos a certeza de que a Igreja Católica é a Igreja de Cristo, a única verdadeira; temos o papa, que goza de infalibilidade em questões de fé e de moral; temos uma hierarquia que governa o povo fiel; e temos a promessa da assistência permanente do Espírito Santo. Isso tem que ser testemunhado face a um mundo que não sabe para onde vai e que, por si mesmo, jamais alcançará a salvação. Ele terá que passar pela mediação da Igreja. Os cristãos desse modelo se sentem imbuídos de uma missão salvadora única. Nisso são fundamentalistas e pouco dados ao diálogo. O modelo do diálogo parte de outros pressupostos: o Reino é maior que a Igreja e conhece, também, uma realização secular, onde há verdade, amor e justiça; o Cristo ressuscitado possui dimensões cósmicas e empurra a evolução para um fim bom; o Espírito está sempre presente na história e nas pessoas do bem; Ele chega antes do missionário. Deus nunca abandonou os seus e a todos oferece chance de salvação. A missão da Igreja é ser sinal dessa história de Deus dentro da história humana e, também, um instrumento de sua implementação junto com outros caminhos espirituais. Se a realidade está empapada de Deus, devemos todos dialogar. OS DOIS MODELOS O primeiro modelo do testemunho é da Igreja da tradição. Era o modelo do papa João Paulo II, que corria o mundo empunhando a cruz como testemunho de que aí vinha a salvação. Era o modelo, mais radicalizado ainda, de Bento XVI. O modelo do diálogo é do Concílio Vaticano II, de Paulo VI, e de Medellin e de Puebla, na América Latina. Viam o cristianismo não como um depósito, mas como uma fonte de águas vivas e cristalinas que podem ser canalizadas por muitos condutos culturais. O primeiro modelo, do testemunho, assustou muitos cristãos que se sentiam infantilizados e desvalorizados em seus saberes profissionais. O segundo modelo, do diálogo, aproximou a muitos, pois se sentiam em casa, ajudando a construir uma Igreja aprendiz e aberta ao diálogo com todos. O efeito era o sentimento de liberdade e de criatividade. Esse modelo do diálogo se faz urgente caso a instituição Igreja queira sair da crise em que se meteu. Devemos discernir com inteligência o que atualmente melhor serve à mensagem cristã no interior de uma crise ecológica e social de gravíssimas consequências. O problema central não é a Igreja, mas o futuro da Mãe Terra, da vida e da nossa civilização. Como a Igreja ajuda nessa travessia? Só dialogando e somando forças com todos. (transcrito do jornal O Tempo)