quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Até quando os brasileiros vão comprar um carro pelo preço de dois?

Honda City foi lançado no México por US$ 16 mil; aqui, custa mais de US$ 30 mil, apesar de todos os incentivos concedidos pelo governo às montadoras Por Brad Haynes SÃO JOSÉ DOS PINHAIS (Reuters) - A Honda lançou o carro City no México, onde o modelo tem preço a partir de 16 mil dólares. O preço no Brasil: acima de 30 mil dólares. Ainda assim, brasileiros adquiriram três vezes mais Hondas no ano passado do que em 2010, mas parece que o apetite dos consumidores estão cansando de comprar um automóvel pelo preço de dois. Custos em alta estão ofuscando uma década de expansão do quarto maior mercado automobilístico do mundo, e ressaltam a necessidade de ações de longo praz para aumento da competitividade. Em vez disso, as montadoras locais são alvo de medidas de apoio temporário do governo que podem sufocar o crescimento durante os próximos anos. Quando a indústria começou a dar sinais de desaceleração no ano passado, a presidente Dilma Rousseff correu em resgate, contendo importações do México e implementando uma taxação agressiva sobre carros estrangeiros. As medidas constituem as iniciativas mais protecionistas no mercado automobilístico brasileiro desde que ele abriu-se às importações há duas décadas, e elas estão mudando a forma da indústria, com resultados mistos. A redução direcionada do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre automóveis impulsionou as vendas de algumas montadoras, enquanto outras congelaram planos de novas fábricas. A pressão política coibiu demissões, mesmo em meio à queda da produtividade. E analistas dizem que essas políticas não resolverão o principal problema: está ficando mais difícil fabricar um carro no Brasil a um preço com o qual brasileiros consigam arcar. OS MAIORES CUSTOS DO MUNDO Quão ruim é essa situação? Basta perguntar à estrela da recente expansão. Em cinco anos, as vendas da montadora francesa Renault triplicaram no Brasil, onde ela está rapidamente se aproximando da quarta posição no ranking de fabricantes de carros. Mas quando Olivier Murguet assumiu a companhia no Brasil neste ano, ele foi surpreendido ao se deparar com custos acima daqueles da Renault na França. Durante inauguração de uma estamparia no Paraná no início deste mês, ele disse que em breve as operações serão mais caras no Brasil do que em qualquer outro lugar do mundo. "A nossa empresa não pode suportar aumentos de custo dessa magnitude", afirmou. "Se a gente não tivesse feito esses investimentos, talvez agora a gente não seria tão ousado", acrescentou. Murguet está enfrentando o famoso "custo Brasil", resultante de impostos, burocracia e uma inflação teimosa que eleva os preços de todos os produtos. A rígida legislação trabalhista e um mercado de trabalho apertado levaram a uma elevação dos salários a taxas superiores à inflação nos últimos sete anos. Apenas em 2011, sindicatos de metalúrgicos negociaram um aumento de 10 por cento no salário nominal. Investimentos anêmicos em estradas também fizeram com que transferir carros para concessionárias seja 80 por cento mais caro e consuma 70 por cento mais tempo comparado às operações da Renault na Europa, segundo Murguet. A partir do momento em que os veículos encontram-se nas concessionárias, impostos são responsáveis por mais de 30 por cento do preço pago por consumidores brasileiros por eles, quase o dobro da proporção registrada na Itália --o segundo mercado com mais tributos entre aqueles no qual a Renault opera. Como resultado, Murguet disse que montadoras têm dificuldade em repassar os aumentos de custos para consumidores que já têm de lidar com altos preços. "Aqui todos os anos perdemos três a quatro pontos de competitividade. Isso não pode continuar muito tempo, porque um dia a margem termina em zero", disse. COMPROMETIMENTOS Dilma tentou resolver diversos problemas estruturais do Brasil, reduzindo as taxas de juros e incentivando o investimento privado no setor de infraestrutura. Mas quando empregos na indústria correm risco, ela enfrenta uma clara pressão da base aliada do governo para manter os postos de trabalho em linhas de produção de carros locais --e para bloquear a entrada de veículos fabricados no exterior. Enquanto a competitividade da indústria automobilística brasileira enfraquecia no ano passado, ela atingiu um ponto de ruptura. As vendas de veículos novos importados cresceram 30 por cento, para quase um em quatro carros, enquanto as vendas de veículos brasileiros estagnaram. Consequentemente, a produção local de veículos corre o risco de ter contração pela primeira vez em uma década. Temendo uma onda de cortes de postos de trabalho, a resposta do governo foi esmagadora. O Brasil elevou os impostos em 30 pontos percentuais para uma série de carros importados. Quando isso se mostrou insuficiente, uma medida emergencial em maio reduziu o IPI sobre veículos fabricados no país. A redução de impostos ajudou a conter as importações e funcionou como fagulha para as vendas de carros brasileiros. Só há um problema: demissões não são permitidas. Isso inclui a General Motors, que decidiu fechar uma fábrica de modelos antigos em São José dos Campos, no interior de São Paulo, e transferir a nova produção para unidades mais eficientes. Enquanto a GM se preparava para cortar mais de 1,8 mil empregos na fábrica antiga, o sindicato local levou sua luta para as manchetes nacionais. Trabalhadores bloquearam a rodovia mais importante do Brasil, queimando pneus e exigindo intervenção pela presidente. "Nós damos incentivos fiscais e financeiros e queremos um retorno: a manutenção do emprego", disse Dilma naquele momento. A GM abriu mão da decisão e aceitou manter a linha de produção da unidade. A GM não é a única empresa a sacrificar eficiência em nome de emprego total. A produção por funcionário na indústria automobilística brasileira, calculada com dados da associação das montadoras Anfavea, recuou no ano passado pela primeira vez desde 1999. A produtividade caiu novamente em 12 por cento no primeiro semestre deste ano, para o menor patamar em oito anos. A expectativa geral é de que o governo federal estenda a medida emergencial do IPI, que expira nesta semana, por pelo menos mais dois meses. Ainda assim, analistas dizem que isso está apenas adiando inevitáveis cortes de postos de trabalho. "O corte do IPI é temporário. Isso é o problema", disse o vice-presidente sênior da GM, Marcos Munhoz, numa entrevista. "O que a gente sempre procura não é três meses nem seis meses. O que a gente procura é uma mudança estrutural." TUDO OU NADA O benefício tributário pode ser breve, mas as barreiras comerciais chegaram para ficar. Quando o governo apresentar detalhes do novo regime automotivo, fontes do governo e da indústria dizem que ele direcionará o mercado permanentemente em favor da produção local. Os impostos serão bastante maiores se menos de dois terços de um carro for fabricado no Brasil ou no Mercosul. Para montadoras que já têm fábricas locais, isso significa que pode valer a pena transferir uma fração maior de sua cadeia de produção para o país, escolhendo lidar com o custo Brasil em vez dos impostos adicionais. Por exemplo, a Toyota apresentou planos para uma fábrica de motores próxima a uma recém-aberta unidade local de produção. Fabricantes mais estabelecidas como a Fiat, a maior montadora no Brasil em termos de vendas, não devem enfrentar problemas com a nova lei, devido a suas cadeias de produção de longa data. Mas para rivais que ainda estão analisando as vantagens de estabelecer sua primeira fábrica no Brasil, cotas de conteúdo local complicaram seu planejamento. A chinesa JAC Motors, a alemã BMW e a divisão Jaguar Land Rover da Tata Motors suspenderam planos para fábricas no Brasil, enquanto aguardam para ler as linhas miúdas. Sem uma exceção para montadoras que chegaram recentemente ao país, dizem as empresas, elas não têm motivos para investir em linhas de montagem locais. "Não iremos ao Brasil para ter prejuízo", disse o chefe de produção da BMW, Frank-Peter Arndt, a jornalistas mais cedo neste ano durante negociações com o governo. A BMW afirmou estar considerando a possibilidade de estabelecer uma nova fábrica no México, onde os impostos e os custos trabalhistas são significativamente menores. Para consumidores brasileiros, o resultado é óbvio, com menos competição e carros já custosos que deverão ficar ainda mais caros com fração maior de sua composição fabricada no país. FECHANDO PORTAS Um sentimento do consumidor mais fraco e a concessão mais rígida de crédito também fizeram com que as principais montadoras que operam no Brasil adiassem investimentos em novas capacidades. Há anos, um acordo comercial com o México representou uma válvula de escape para a produção brasileira caso o mercado doméstico desacelerasse. Mas quando a importação de carros mexicanos começou a superar as exportações para o México no ano passado, o governo de Dilma ameaçou descartar o acordo automotivo entre os dois países a menos que fosse definida uma cota anual de importação. O Brasil conseguiu o que queria com o México, mas então as relações comerciais com a Argentina azedaram também. Como consequência, as opções para as exportações brasileiras diminuíram justamente num momento em que seu mercado doméstico enfrenta dificuldades. "O Brasil começou com México e Argentina, e depois ficou feio", disse a analista da indústria automobilística da MB Associados, Tereza Maria Fernandez. "Na reviravolta, é o Brasil que vai tomar pancada." (Reportagem adicional de Alberto Alerigi, em São Paulo, e Irene Preisinger, em Munique)
Nasa descobre primeiro sistema de dois planetas que giram ao redor de dois sóis O sistema, batizado de "Kepler-47", é composto por planetas maiores que a Terra. Sistema Kepler 47, com dois planetas girando ao redor de duas estrelas Cientistas da Universidade Estadual de San Diego, nos Estados Unidos, anunciaram nesta terça-feira (28) a descoberta do primeiro sistema circumbinário e multiplanetário, no qual mais de um planeta orbita ao redor de dois sóis. A observação faz parte da missão Kepler, da agência espacial americana (Nasa), que busca novos planetas. A última descoberta "mostra que sistemas planetários podem se formar e sobreviver inclusive no caótico meio ao redor de uma estrela binária", diz a equipe liderada pelo astrônomo Jerome Orosz. As duas estrelas do novo sistema, batizado de "Kepler-47", orbitam uma ao redor da outra a cada sete dias e meio. Uma delas é similar em tamanho ao Sol, enquanto a outra tem um volume três vezes menor e uma luz 175 vezes mais fraca. Quanto aos dois planetas, o que orbita mais próxima das duas estrelas - algo que realiza a cada 49 dias - é três vezes maior em diâmetro que a Terra, o que o transforma no menor dos que se conhece orbitando em um sistema circumbinário (aquele cujos planetas giram ao redor de duas estrelas) . O segundo planeta é ligeiramente maior que Urano e demora 303 dias para orbitar os dois sóis de "Kepler-47". Por isso, considera-se que ele está localizado em uma "área habitável", ou seja, que tem condições similares à Terra e portanto poderia ter água em sua superfície. "Embora o (segundo) planeta seja provavelmente um 'gigante de gás' e, portanto, não adequado para a vida, seu descobrimento mostra que os planetas circumbinários podem existir, e existem, em zonas habitáveis", assinalou a universidade. Até agora haviam sido encontrados quatro sistemas de planetas girando ao redor de duas estrelas (os Kepler-16, 34, 35 e 38), mas este é o primeiro com mais de um planeta. "Aprendemos que os planetas circumbinários podem ser como os de nosso Sistema Solar, mas com dois sóis", comentou Joshua Carter, co-autor do estudo e analista do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics. EK

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Nina e Carminha em Brasília

Nelson Motta Se o mensalão não tivesse existido, ou se não fosse descoberto, ou se Roberto Jefferson não o denunciasse, muito provavelmente não seria Dilma, mas Zé Dirceu o ocupante do Palácio da Alvorada, de onde certamente nunca mais sairia. Roberto Jefferson tem todos os motivos para exigir seu crédito e nossa eterna gratidão por seu feito heroico: "Eu salvei o Brasil do Zé Dirceu." Em 2005, Dirceu dominava o governo e o PT, tinha Lula na mão, era o candidato natural à sua sucessão. E passaria como um trator sobre quem ousasse se opor à sua missão histórica. Sua companheira de armas Dilma Rousseff poderia ser, no máximo, sua chefe da Casa Civil, ou presidente da Petrobras. Com uma campanha milionária comandada por João Santana, bancada por montanhas de recursos não contabilizados arrecadados pelo nosso Delúbio, e Lula com 85% de popularidade animando os palanques, massacraria Serra no primeiro turno e subiria a rampa do Planalto nos braços do povo, com o grito de guerra ecoando na Esplanada: "Dirceu guerreiro/ do povo brasileiro." Ufa! A Jefferson também devemos a criação do termo "mensalão". Ele sabia que os pagamentos não eram mensais, mas a periodicidade era irrelevante. O importante era o dinheirão. Foi o seu instinto marqueteiro que o levou a cunhar o histórico apelido que popularizou a Ação Penal 470 e gerou a aviltante condição de "mensaleiro", que perseguirá para sempre até os eventuais absolvidos. O que poderia expressar melhor a ideia de uma conspiração para controlar o Estado com uma base parlamentar comprada com dinheiro público e sujo? Nem Nizan Guanaes, Duda Mendonça e Washington Olivetto juntos criariam uma marca mais forte e eficiente. Mas antes de qualquer motivação política, a explosão do maior escândalo do Brasil moderno é fruto de um confronto pessoal, movido pelos instintos mais primitivos, entre Jefferson e Dirceu. Como Nina e Carminha da política, é a história de uma vingança suicida, uma metáfora da luta do mal contra o mal, num choque de titãs em que se confundem o épico e o patético, o trágico e o cômico, a coragem e a vilania. Feitos um para o outro.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Para atacar o PT no STF, Gurgel teve 5 horas

Procurador-geral da República leu peça acusatória da Ação Penal 470, o chamado mensalão; discurso técnico teve também fortes doses de politização; ele não levantou suspeição sobre Dias Toffoli; foi o segundo dia do maior julgamento do Supremo – O segundo dia do maior julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), realizado nesta sexta-feira dia 3, teve início com as palavras do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Ele explicou porque cada réu deve ser condenado, segundo a convicção formada pelo Ministério Público durante o processo da Ação Penal 470, conhecida como mensalão. O procurador, que apareceu com o braço engessado por causa de um acidente doméstico, disporia de até cinco horas para fazer a sustentação oral da acusação dos 38 réus. Pelo cronograma do STF, estava prevista para hoje a manifestação dos primeiros cinco advogados de defesa, começando pelo representante de José Dirceu. Mas a análise da questão de ordem sobre o desmembramento do processo, sugerida pelo advogado Márcio Thomaz Bastos, ontem, atrasou o primeiro dia e prorrogou a fala dos advogados para a segunda-feira, às 14h. Tese de Gurgel Em sua sustentação, o procurador-geral deverá apontar José Dirceu como o líder do chamado mensalão, e como subordinados do ex-ministro o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o então presidente do partido, José Genuino. A tese é negada pela defesa dos réus. Gurgel já enviou aos 11 ministros do STF, na semana passada, um memorial com as principais provas contra os réus, a fim de facilitar o trabalho da corte. Afinal, é possível que as comprovações sejam contestadas pela defesa. Pelo documento, Gurgel deve bater forte nos acusados. Ele diz que o caso "foi o mais atrevido e escandeloso esquema de corrupção e de desvio de dinheiro público flagrado no Brasil". Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, que teve acesso ao conteúdo, o chefe do MP diz também que o esquema representou "um sistema de enorme movimentação financeira à margem da legalidade, com o objetivo espúrio de comprar os votos de parlamentares tidos como especialmente relevantes pelos líderes criminosos". Dias Toffoli Roberto Gurgel informou ontem que não pedirá o impedimento do ministro Antonio Dias Toffoli no julgamento do mensalão. Até esta quinta-feira, ele ainda estudava a hipótese de questionar a participação do ministro e disse que só decidiria hoje que atitude tomar. O procurador disse que descartou a ideia porque seu pedido poderia atrasar o andamento do processo. "Achei que não deveria o MP [Ministério Público] tomar uma iniciativa que iria provocar necessariamente a suspensão do julgamento e, talvez, até a inviabilização da realização do julgamento, pelo menos em um horizonte próximo". Indicado ao STF pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2009, Toffoli tem forte ligação com o PT, do qual foi advogado, e com o ex-ministro José Dirceu, que foi assessorado por ele quando chefiava a Casa Civil da Presidência da República. Dirceu é um dos réus do processo do mensalão. Toffoli também foi sócio do escritório de advocacia que defendeu três acusados no processo – e sua companheira, Roberta Rangel, defendeu dois dos réus, mas já deixou o caso.