O caso do jornalista Pimenta Neves, réu confesso do crime de homicídio que levou mais de dez anos para ser preso, trouxe novamente à tona a discussão sobre a morosidade da justiça. Ocorre que a Constituição prevê recursos - além da apelação para o Tribunal de origem - para o Superior Tribunal de Justiça (o chamado recurso especial) e para o Supremo Tribunal Federal (denominado recurso extraordinário). Isso impossibilita um julgamento rápido, pois sempre cabe mais um recurso. Essa prodigalidade recursal acaba atravancando os Tribunais Superiores, já que os ministros não podem dar conta da imensa quantidade deprocessos e recursos. Além disso, os juízes têm seus limites, circunscritos à Constituição e às leis, a quem devem obediência.
Recentemente, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cezar Peluso, sugeriu a extinção dos recursos especial e extraordinário. A sugestão tramita no Congresso Nacional como proposta de Emenda à Constituição (PEC). A PEC nº 15 acaba com os referidos recursos com o objetivo de tornar a Justiça muito mais célere e efetiva. E, para evitar arbitrariedades por parte dos Tribunais Estaduais e Regionais Federais, fica instituída ação rescisória, para os casos de julgamentos fraudulentos, teratológicos, ou manifestamente contrários à lei de repercussão geral, na forma do sistema adotado pela Suprema Corte dos EUA.
A garantia constitucional da ampla defesa é preservada, pois continuarão a existir recursos como apelação, agravo de instrumento e embargos de declaração e ações autônomas de impugnação, como o habeas corpus. A propósito, se o referido jornalista tivesse sido preso na data em que a sentença foi proferida e considerando as regras da lei de execução penal, ele já estaria em liberdade. Assim, todos saem perdendo com a morosidade da Justiça.
No último dia 31 de maio de 2011, cansados de sofrerem críticas pela demora daprestação jurisdicional, o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), acompanhado de representantes das associações dos magistrados de cada Estado da Federação, incluindo a AMAERJ, representantes das associações dosjuízes federais e dos juízes do trabalho, além do presidente do Conselho dePresidentes de Tribunais e alguns presidentes de Tribunais, foram juntos aoSupremo solicitar apoio à proposta de emenda sugerida pelo presidente CezarPeluso.
De maneira inédita, os juízes se uniram para demonstrar que são os mais insatisfeitos com as consequências da morosidade da prestação jurisdicional. Trata-se de verdadeira manifestação de apoio à luta por uma justiça mais célere e efetiva na garantia real dos direitos. Toda a magistratura brasileira se junta à sociedade e à imprensa nessa luta.
Agora, está nas mãos do Congresso Nacional decidir se quer uma Justiça célere e efetiva ou se prefere manter o Poder Judiciário ineficiente. A eficiência da Justiça depende da eficiência do Poder Legislativo nas aprovações desta PEC e do Código de Processo Civil.
Artigo: Ricardo Starling
Depois de mais de uma semana de cuidadosa e minuciosa preparação de sua defesa, enfim o governador Sergio Cabral reapareceu para dar entrevista, mas apenas a um veículo, a Rádio CBN, da Organização Globo, que recebe mais de 50% da verba publicitária estadual. E declarações dele são espantosas e inacreditáveis, revelando uma desfaçatez invulgar e descomunal.
Simplesmente, disse que vai assumir o compromisso de rever seu comportamento e até criar um Código de Conduta que estabeleça limites para a relação entre o governador e empresários. É como se o governador lamentasse ter sido apanhado roubando, mas promete que daqui para a frente só continuará roubando muito na encolha, sem ser visto em público com seus cúmplices nessas empreitadas, digamos assim.
“Quero assumir o compromisso de rever minha conduta. Vamos construir um código juntos, vamos estabelecer os limites”, disse ele, sem que se saiba a que estava se dirigindo. E quer dizer que até agora não havia limites? “Tem um código nacional, se não me engano, feito no fim do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002. E deve haver estados em que há. Adoro Direito Comparado. Vamos ver o que há em outros estados do Brasil e no mundo. Enquanto eu for um homem público, tenho que respeitar a opinião pública, debater com a opinião pública. Sempre me submeti a isso, como deputado, senador e como governador. Não há nenhum problema nisso”.
Então, é preciso haver um Código para que o governador enfim saiba até onde pode ir sua intimidade com um empresário? Nosso dedicado governador vai mesmo pesquisar “nos outros estados, no Brasil e no mundo”, para aprender a se portar como um homem público? Será que ouvimos bem?
Caramba, trata-se de um governante que “adora Direito Comparado”, mas não sabe o que é certo e o que é errado; E agora, quando já está no segundo mandato como governador, agora é que ele vai discutir “novas regras sobre o assunto” com o secretário da Casa Civil, Régis Fichtner?
“Minha vida privada é uma coisa, minha vida pública é outra e nunca misturei isso”, disse ele, como se fosse normal um governador pedir emprestado um luxuoso avião ao mais rico empresário do país, convidar o empreiteiro que tem mais obras no Estado e seguirem juntos, com as famílias quase completas para um fim de semana prolongado, tudo grátis, num resort de altíssimo luxo.
A família do governador seguiu incompleta, mas a família do empreiteiro estava toda lá no jato, e Fernando Cavendish fez questão de convidar a própria cunhada, Fernanda Kfuri, para fazer companhia ao governador, que tinha acabado de romper com a esposa e se sentia por demais sozinho, vejam só quanta consideração, nem é preciso de Código de Conduta para atos como esses, que apenas revelam admiração e respeito entre amigos.
É claro que não há nada para esconder e são apenas bons amigos, como o governador Sergio Cabral fez questão de destacar. “É um absurdo querer vincular qualquer elo de amizade entre mim e o Fernando, que é anterior ao meu mandato, com o crescimento da empresa (Delta Construções). Jamais tomei qualquer decisão que envolva dinheiro público com base em questões pessoais”.
Cabral negou que suas relações pessoais com o presidente da Delta tenham influenciado no aumento de contratos da construtora com o governo do estado nos anos de sua gestão – apenas no último ano, o crescimento foi de 655%.
Ficou claro, com a entrevista do governador, que é tudo coincidência. Só em 2011, um quarto dos contratos de obras com a Delta, no valor de R$ 58 milhões, foi feito sem concorrência pública. Mas é só coincidência, e só deu essa confusão toda por causa da falta de um Código de Conduta.
Vamos ficar por aqui, mas logo voltaremos, com alguma sugestões para o governador incluir nesse tal Código de Conduta, que será fundamental para o futuro da política brasileira. Se já existisse, por exemplo, nada teria acontecido ao ex-ministro Antonio Palocci. Pensem nisso.